Como criar para si objetos sólidos II

O espaço visível e o invisível foi tomado pela cidade. O espaço inteiro foi dividido em frestas e pontes escorregadias muito além das chuvas. A cidade se divide em duas: numa moram e na outra nascem. As que nascem são repletas de entradas e escoamento de água. A cidade parada, com as casas construídas exatamente no mesmo lugar, com os edifícios compridos que escalam. Todos os moradores movimentam as sacolas através do buraco delas para a mão segurar. O barulho das sacolas todas juntas se concentra e as deixam amassadas. As coisas de dentro da sacola saem. Caem. Todos recolhem. Olham para o chão. O chão, o que se mantém na horizontal nessa cidade. O chão mantém as sacolas vazias no ar. Numa certa horizontalidade. O chão olhado por baixo sem os passos. O chão em si, afogado nas calçadas. Mangas folgadas e maiores que os braços abraçam o chão. As mãos se abraçam formando um laço comprido. Sacolas coloridas não entram na cidade. Sacolas coloridas simplesmente não são aceitas. Pendem todas as sacolas penduradas. Só entram as brancas, dos nascimentos. As sacolas brancas nunca enfrentaram um processo de impressão colorida. O que eles estão pensando? eles pensam que estou colocada perto de onde sai a água por uma torneira e a água entre na minha boca por ser enfiada e aberta. O meu corpo absorve tudo isso que sai sem parar. Passa direto pela minha garganta sem detalhes. O que essas pessoas estão pensando de mim? Que eu estarei ajoelhada no chão perto da pia e que me arrasto comparando a altura dos objetos sólidos em relação a mim quando estou de pé? É isso o que eles pensam.

Comments

cra said…
não sem
vanessa reis said…
o mundo é assim livro, pra ser lido. bem bom esse tu, dona. bem bom.


tu ainda mora na santa cecilia?